Cuidado com a pressa para perder peso. Alguns métodos podem colocar sua saúde em sério risco
Por Marcia Melsohn
Sabe aquelas pessoas que vivem descobrindo o melhor jeito de desinflar os pneus em tempo recorde? Elas muitas vezes emagrecem, mas logo recuperam o peso -- ou ganham até mais do que tinham no começo. Dos males, esse é, de longe, o menor. A maioria desses métodos milagrosos põe em risco a saúde do seu inocente e crédulo adepto.
"A primeira coisa que devemos levar em conta no processo de emagrecimento é a velocidade com que o nosso organismo queima gordura", diz Rodrigo Ferraz, pesquisador da Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo e especialista em treinamento esportivo. "Eliminar mais de um quilo por semana, na maioria das vezes, significa que estamos perdendo muito mais do que gordura", explica Ferraz.
"Quando não há tempo suficiente para se adaptar às mudanças, o corpo reage de forma negativa. E é assim que aparecem os problemas", atesta a nutricionista Catarina Stocco, que é especialista em nutrição clínica funcional em Curitiba, no Paraná. Segundo ela, a perda acelerada de peso pode comprometer o fígado, causar anemia, mal-estar e fraqueza e até pedras na vesícula.
Veja a seguir os principais erros cometidos por aí no afã de afinar a cintura:
Pular refeições e comer o mínimo possível
Aquele velho conselho de fechar a boca para emagrecer ficou pra lá de caduco. "Sem alimento, o corpo entende que o indivíduo está passando por um momento de necessidade e diminui o dispêndio de energia, armazenando mais gordura para usar quando requisitado", afirma Paula Crook, nutricionista da PB Consultoria, em São Paulo. "Precisamos nos alimentar a cada 3 horas para que os níveis de glicose no sangue fiquem sempre equilibrados e o metabolismo ativo", completa Paula. Além disso, ficar muito tempo sem comer pode provocar tontura, dor de cabeça e falta de concentração, entre outros inconvenientes provocados pela hipoglicemia, a queda das taxas de açúcar na circulação.
Dietas muito restritivas
Elas geralmente eliminam um ou mais nutrientes do cardápio e isso, claro, não é saudável. O correto é balancear a alimentação com carboidratos, proteínas e gorduras, escolhendo as melhores opções, nas quantidades adequadas. "A restrição faz o corpo entrar em desequilíbrio, dificultando a perda de gordura", diz Paula. Um dos maiores problemas que essas privações podem causar é a deficiência de minerais importantes como cálcio, ferro, magnésio e fósforo. Sem contar as vitaminas. Esses micronutrientes são fundamentais nas reações do metabolismo, inclusive na queima dos estoques gordurosos. "Além disso, que quem adota esses métodos radicais dificilmente consegue segui-los por muito tempo e acaba se deparando com o famoso efeito sanfona", diz Catarina Stocco.
Vômitos e uso de laxantes ou diuréticos
Estudos mostram que o vômito não faz a pessoa eliminar os quilos extras e não impede a absorção do que se ingeriu. "Ocorre apenas eliminação de água, o que ainda pode levar à desidratação", explica Paula Crook. O mesmo acontece com as pessoas quem lançam mão de laxantes e diuréticos para afinar a cintura. "Há perda de líquido e sais minerais, importantíssimos para o bom funcionamento do organismo", afirma Catarina. "Esses remédios podem provocar desidratação, redução dos níveis de potássio, cálcio e magnésio no sangue. O indivíduo pode apresentar arritmias cardíacas, fraqueza muscular e até ter uma parada cardíaca", conclui Paula.
Excesso de exercícios
"Praticar todos os dias o mesmo esporte gera fadiga osteomuscular e facilita o aparecimento de lesões", diz Rodrigo Ferraz. A falta de intervalo entre um treino e outro também é prejudicial. O processo anabólico - ganho de massa muscular, fortalecimento ósseo e perda de gordura - ocorre quando estamos descansando. Se não respeitarmos esse tempo, entramos em um processo inverso, que é conhecido como catabolismo. Nesse caso, perdemos massa muscular de maneira generalizada, inclusive cardíaca, e aumentamos o estímulo para o depósito de gorduras. De acordo com Ferraz, pode-se praticar atividade física vários dias seguidos, sim, desde que as modalidades e a intensidade sejam variadas. Por exemplo: segunda, musculação; terça, corrida mais longa; quarta, natação; quinta, musculação; sexta, corrida mais rápida com um tempo de duração mais curto; e sábado: natação. Domingo é descanso.
Medicamentos
Cuidado! Remédios para emagrecer só podem ser consumidos após avaliação médica e com prescrição. Muitos deles provocam sérios efeitos colaterais, como boca seca, insônia, taquicardia, ansiedade, constipação, suor excessivo, aumento da pressão arterial e esteatorreia (fezes com gordura). É muito importante pesar a relação custo-benefício se esse for o recurso a ser usado na perda de peso.
Atividade física em jejum
Malhar com o estômago vazio pensando em ter menos o que queimar é uma grande furada. Nenhuma máquina funciona sem combustível. E o do nosso corpo está nos alimentos. Sem eles, o organismo se defende reduzindo o tecido que gasta energia - leia-se músculo - e preservando as reservas, ou seja, gordura. Portanto, diferentemente do que muitos imaginam, o jejum engorda.
Ingestão de álcool
"A drunkorexia existe e está cada vez mais presente, principalmente entre as mulheres, que trocam refeições por bebidas alcoólicas", diz Paula Crook. Essa estratégia é perigosíssima, uma vez que diminui a oferta de substâncias essenciais para o bom funcionamento do organismo. O álcool fornece calorias (7 kcal/g), mas nenhum nutriente. São as chamadas calorias vazias. "Isso acarreta problemas gastrintestinais e até imunológicos, e deixa a pessoa mais vulnerável a doenças como pneumonia, tuberculose e até câncer", completa a nutricionista.
Fonte Revista Boa Forma na Internet